23.9.12

Um mês.

Esse post é um post comemorativo de um mês na Holanda. Um mês completamente novo.

Novo pelo fato de eu estar morando longe da família, sozinha. Novo porque tudo da casa depende de mim. Não tem ninguém pra lavar minha roupa, arrumar minha cama, fazer minha comida e conversar. É bom, ao mesmo tempo que é ruim. Não sei fazer compras no supermercado, que dure o tempo certo até o próximo dia de compra. (Tô aprendendo, mas é difícil)

Novo, porque de repente eu tenho que conversar com amigos, no geral, em inglês. Aqui vivem muitos brasileiros e portugueses, então não sinto tanta falta de falar português, não. Mas sabe aquela dúvida na matéria, que vem em português, ou um comentário genial que cê tem que sai automaticamente não em inglês, ou aquela hora que você está distraída demais pra pensar em inglês? Então, faz falta. Aí eu começo a falar com os amigos mais amigos, em português e só depois cai a ficha de que eles não entendem patavinas do que eu falei. Aconteceu várias vezes. Com várias pessoas e mais de uma vez com cada um.

Novo, porque estou na Holanda, numa cidade que não é a minha. Numa universidade que não é a minha. Com professores que eu não conheço. (Vendo matérias antigas, de um jeito novo). Não tendo Leo, Daniel, Ju, Vinícius ou outro da minha sala dividindo (resolvendo) minhas dúvidas.

Novo, porque tem muita gente nova na minha vida. MUITA gente nova. Pessoas que eu conheço a um mês ou menos, mas que parece um ano ou mais. A Helô, uma das brasileiras da minha cidade, falou sobre intensidade. Intensidade em tudo que eu tô vivendo, uma enxurrada de informação e de sentimentos. Tanto sentimento que distrai da saudade. Tanta informação que fica menos dolorido. É muita coisa pra pensar, fazer, conhecer e entender, que nem quando eu páro, que nem esse fim de semana de quarto, computador e "solidão", dói.

Talvez porque tenha um mês, só. Tem muito tempo pra saudade, uns onze meses pela frente. Um aniversário e um natal gelados. Um reveillon indefinido. Uma proposta, de ficar aqui dois anos, a ser analisada.

14.9.12

Que isso novinha, que isso!?

Na Holanda as coisas são engraçadas. Tem duas idades legais pra beber, 16 anos pra coisas leves, com teor alcoólico de até 14%  e 18 anos pra coisas mais fortes. Cê tem 2 anos pra treinar até dar conta do que é bom de verdade. MAS pra comprar qualquer tipo de bebida cê tem que saber dirigir a bike bêbado com perfeição e precisa de muita prática, então cê tem que ter 20 anos. Claro que as justificativas não são essas mas é como eu enxergo as coisas e faz muito sentido. 

Eu, como é sabido, já passei, tem um tempinho, de qualquer uma das idades citadas. Mas como sempre cuidei muito bem da minha saúde, aparento ter menos que esses 20 anos aí (gordura rejuvenesce, né?). Alguns holandeses (não sei por que aparento menos idade ou porque eles são meio sem noção) já me deram 17 anos.

Segunda feira, estávamos eu e Helô no supermercado que tem no campus, 2 quarteirões da minha casa, eu com o celular e o dinheiro no bolso, pra comprar um toddy pra fazer meu amado e querido brigadeiro. Estávamos a caminho do caixa, quando vimos ela, a Desperados. 



Nem lembro se é muito boa ou muito ruim, mas é uma cerveja que tem tequila e pra mim isso basta pra ser delícia. Pegamos um pack com 3 que custava ok, então tentamos pagar e não fomos permitidas. A gente não tinha a ID, então não podíamos comprovar nossa maioridade. (ainda bem que a menina do caixa não viu minhas pernas, senão eu ia ser confundida por um menino de 8 anos de idade). 

Voltamos pra casa só com o toddy (na verdade um nesquick, mas de qualquer forma um achocolatado), tomamos uma cerveja que eu já tinha conseguido comprar e fizemos minha especialidade, macarrão com tinta de lula e molho gorgonzola, e brigadeiro.

Depois eu conto as excursões sobre ir ao supermercado em holandês. Não tanto pela língua e não saber o que é o quê, mas também sobre a lógica organizacional que comanda aqui: NENHUMA.

8.9.12

A história dos meus roxos


Quinta eu sofri a minha primeira queda de bike. E a segunda, a terceira e a quarta. Todas numa sequência idiota de “se segura Berenice,porque nós vamos bater”.  Perdi o foco da pedalada e de repente eu estava no chão, rindo. Dói, mas se eu não rir, não tem como seguir. A Leila Lopes dramatiza bem. Não me lembro e foram alguns segundos de resgate, realizado por um holandês no meio do caminho, que me viu capotando, sozinha. Tadinho, ficou todo preocupado, e me ajudou até eu conseguir pedalar de novo e cair de novo.

Por causa desses tombos e da minha inabilidade de freiar, minha perna está toda roxa e machucada. Parece que eu voltei no tempo e tenho 10 anos de idade de novo. Ou pior, virei um menino skatista, porque nem na minha fase mais aguda de peraltice eu estive com as pernas tão feias assim. 

Mas faz parte do aprendizado. Já tô andando de bicicleta com compras pesadas e sem cair, muito. Arrancar e freiar tá tranquilo e o próximo desafio é levar alguém na carona. Fico devendo a foto da bicicletinha, sempre esqueço de tirar quando ela não tá amarrada em trocentas outras bicicletas, no estacionamento...é, eles tem muitas bicicletas por aqui.

4.9.12

Diários de uma bicicleta


Meu maior medo de chegar aqui na Holanda era a bicicleta. Já não sou muito jeitosa andando sobre dois pés, com meu centro de gravidade de sempre, bem conhecido e dominado, agora imaginem só como seria eu em cima de dois pneus fininhos como os das bicicletas daqui?

Eu nunca realmente aprendi com todas as letras a andar de bicicleta. Cheguei a andar com aquelas de pneus menores e grossinhos de criança que tira as rodinhas de apoio, sabe? Mas andava 5m pra lá, 5m pra cá. E só. Nunca fui capaz de dizer que “Nó, sou ótima ciclista” ou “Eu amo andar de bicicleta”.

Como aqui nos Países Baixos é tudo reto (ai, como eu sinto falta de subir e descer ladeira de BH, ver a Serra no fundo de todas as minhas paisagens...), a galera ama pedalar. Faça chuva, neve, gelo, calor, muito calor, de dia ou de noite, a única certeza é que eles estão de bike. E não só isso, é extremamente aconselhável andar de bike aqui. Ônibus é caro e não passa toda hora (até passa com certa frequência – e são bem pontuais, mas é caro), e é tudo “meio longe”. Pedalar reduz consideravelmente essas distâncias.

Eu tive que superar meu medo, porque meus irmãos daqui já não aguentavam mais me levar pra cidade de carona na bike. Haja perna! (nem vou contar como foram as primeiras caronas que eu peguei. Ok, vou sim)

Pausa pra carona:

A primeira carona que eu peguei foi com o Vini. Foi lindo começar a andar, facinho e sem estresse, certo? HAHAHAHA não! Eu sou desesperada. Descobri que detestava a sensação de estar em cima de um troço desses. Mas (meio que)  deu certo no final das contas. Depois eu peguei carona com o Sander, da Estônia. (não vou fazer todos os comentários que eu queria, mas ok). Consegui aproveitar o passeio e até fiz um filminho na segunda vez que andei de bike com ele. (num vou botar o filme por dois motivos: (a) é grande demais e cansativo. (b) eu não sei como vocês me aturam, minha voz é ridícula e eu pareço/sou retardada. Deve ser amor.) Mas ontem, eu e o Vini estávamos vindo pra casa, numa distância de poucos metros, estávamos com a Maria, da Romênia, e quando tentamos começar a andar... Caímos. Sério, foi uma queda linda. Caí sentada em cima da roda da bike, mas rimos bastante e não machuquei. Tentamos de novo e foi ok.

Retomando... Ontem os brasileiros da Saxion (outra universidade da cidade) foram comprar as bikes deles, e eu aproveitei pra comprar a minha. Tava pão dura no início, mas minha mãe me disse pra parar de ficar assim e seguir em frente. Paguei um pouco mais que os meninos, mas a minha “fiets” é linda, verde com azul. A Heloísa comprou uma quase igual, só que só azul. A gente chama elas de Gazelas (porque nós somos felizes e a marca delas é Gazelle).

A minha bike ficou pronta na hora e a Helo levou pra casa dela, onde tinha um parque que eu pude praticar. Não tive nenhuma queda, mas “quase quedas” foram muitas. Já tinha tentado andar aqui, o Pavel, que é búlgaro, me ensinou um pouco, então os meninos nem acharam tanta graça assim ontem.

A volta pra casa foi emocionante! Uns 6km, no escuro, e tendo que andar em linha reta! Tive mais umas quedinhas sem cair de verdade e descobri que não sei mesmo parar esse veículo lindinho. Só quem não tá gostando dessa brincadeira é minha panturrilha que tá toda roxa, devido aos esbarrões que eu dou nos pedais com ela.

Hoje fui pra aula de bike, e quando tem um obstáculo que eu tenha que desviar (tipo pessoas ou uns postes ou cancelas ou outras bikes), não sei lidar. Daí eu normalmente desço da bicicleta e empurro. Mas fui tentar passar entre dois postes baixinhos, ao voltar pra casa e... quase causei um acidente. Também não caí, mas quase fiz um cara que tava de bike bater em mim. No final, deu certo.

3.9.12

Querida, cheguei! [Parte 2 - trens, muita mala e cansaço extremo]



A gente tinha combinado com a Uni, eu, Fred e Vinícius, de sermos apanhados no Ponto de Encontro do Aeroporto para o vôo de 17h05, que o Vinícius viria. Iria um cara ajudar a gente a pegar o trem e pegar as chaves do apartamento, já que eu e Fred vamos ficar na Universidade. O Vinícius só desembarcou mesmo umas 18h30, e até então nada da pessoa encarregada da Uni aparecer com a bandeira/placa procurando a gente... Esperamos até às 19h30. Quando a AVENTURA começou. Pra situar: minha humilde mala tinha 36kg. Minhas malas de mão, juntas, devem ter uns 15. Não tô exagerando. Eu sei... nunca leve mais do que você pode carregar, mas eu tô vindo pra ficar um ano, então isso não vale, né? Então sintam o drama: 3 brasileiros, tentando ir de Amsterdã pra Enschede, de trem. Só que nao era só um trem. A gente tinha que trocar de trem 3 vezes. Pegamos 4 trens e no final foram 5 horas de viagem. DE-LÍ-CIA. Primeiro trem foi ok. Tava vazio, botamos as malas todas no banco e tudo tava dando certo (ok, não pela parte de que a gente NÃO sabia como pegaríamos as chaves de casa ou como chegaríamos na Uni).



Segundo trem: o desespero começou. Não sei o porquê, mas o trem tava superlotado. Sério, de não dar pra passar entre os vagões de tanta gente em pé. Me lembrei do amado 2004 no horário do rush e de uma certa viagem de volta de Berlim, com a Joh. Foi bem aquilo mesmo. A única diferença era que em Berlim estávamos com pouca bagagem e no 2004, por maior que fosse nossa mochila, ainda era só uma. Dessa vez não. Nós carregávamos 5 malas mais mil mochilas, durante 1 hora, mais ou menos. Durante toda a viagem em todos os trens, fica alguém falando as estações e possíveis conexões e por qual lado desce em cada estação e em alguns casos outras coisas que eu não posso contar porque nao faço a menor idéia do que seja, porque o cara falava tudo em Holandês.



É essa história de que na Holanda (ou Países Baixos, porque Holanda mesmo só a parte da costa do país é) todos são bilíngues e com inglês só dá pra se virar muito bem parece balela. Fomos perguntar pros holandeses se a estação que a gente ia parar era a estação que a gente queria descer e... eles não entenderam, não responderam em inglês e foram muito solícitos tentando ajudar. No final a gente acabou perdendo a conexão, porque somos um pouco lerdos e tal. Esperamos por mais meia hora o próximo trem. Olha o cachorrinho no segundo trem, que coisa fofa (cê paga uma tarifa especial pra carregar bicicleta ou cachorro no trem, mas é permitido)



No terceiro trem a gente achou que ia ser de boa, entramos na cabine e botamos a mala nos bancos, como fizemos no primeiro. De repente o trem ficou lotado e a gente resolveu sair dali e ir pra onde desse pra deixar as malas em pé e acabamos espremidos durante mais 40 minutos. Já era muito tarde e estávamos muito cansados, mas correu tudo bem nessa etapa.

O último trem foi vazio, mas a gente preferiu ficar perto da porta pra ficar mais confortável. Só que eu ainda não fazia ideia de onde pegar as chaves do meu quarto. Ainda bem que aqui é um mundo digievoluído e tem internet de grátis no trem. (Leandro, esse é seu desafio!) Aí entrei no Facebook e perguntei no grupo da universidade o que fazer. E aproveitei pra fazer meu plano B, que seria ir pra casa da Ari. Algum espírito bom falou o que fazer, então pegamos um taxi da estação até a universidade e chegamos no meu ap. A Vivi mora no mesmo ap que eu, então eu e Fred deixamos as coisas no quarto dela pra conseguir pegar nossas chaves. Tava frio, já era meia noite, estávamos com fome e sem blusa de frio. E... ficamos perdidos no campus.

É um campus enorme o da UT. Parece com o da UFMG, mas maior. Eu moro aqui dentro do campus. Tem um milhão de moradias e mais tantos prédios de aula. Mil campos de futebol, lagos, floresta e... um hotel.

Então a Vivi, que estava aqui a um dia a mais que a gente ia guiar a gente, mas ficou perdida pra chegar no prédio que a gente precisava ir, e então ficamos dando uma volta, até chegar lá. Chegamos onde as nossas chaves deveriam estar e pegamos (não sem antes o segurança dizer que não tinha achado as chaves e a gente ter entrado levemente em desespero).

Cheguei no meu imenso quarto de 5.6 metros quadrados (viu mãe, descobri que ele tem 2X2.8m). Despois escrevo outro post sobre o quarto e a casa. Finalmente fui capaz de dormir, por 6 horas, pra começar a semana de introdução, muita burocracia, festa e falta de internet.